Com Amor, Morrendo

No momento uma onda de uma lucidez sombria aterrissa em minha cabeça; minha avó está morta, não há quem visitar e conversar.  Dentro de uma máquina de moer sonhos eu tento uma vã chance de sobreviver o mais ileso possível dos arranhões mortais que a sobriedade rotineira traz, esta mesma que faz a morte do meu igual se tornar algo banal. Eu também estou morrendo.
As crianças estão crescendo, e daí? É ouvindo aquele "não tenho mais o brilho nos olhos" vindo de algum ente queridx que eu sinto que logo serei eu a próxima pessoa a morrer, morrer e continuar vivo, pior ainda. Brilho nos olhos que eu vivo desesperadamente procurando, olhando nos outros, no espelho, na mente, na alma, brilho? Me disseram que não é bom ter brilho, pois brilho se ofusca, e sim ser iluminado, ter luz própria, não ser aluno, mas, eu também estou aprendendo, o que fazer então?
É como se eu pudesse já ver meu corpo caído, e aquelas mensagens que no momento fazem todo sentido, um sentimentalismo digno de urubus, gozando vivamente da minha carne ainda quente, mas que não mente, sobre aquilo que está escrito na minha pele, saiu um dia de minha mente.
Carinho de amizade que não existe, saudade de algo que não se tem, é um até logo que tem a frieza encontrada nas filas de bancos, valores, mortos, despedida, contas, acertos.
Eu estou engolindo minhas cicatrizes enquanto escrevo.
Eu estou lambendo minhas feridas enquanto te desejo.
E sobre meu epitáfio, quero que coloquem "A sina do sol é se consumir" assim como ele eu estou buscando meu próprio fim.
E é pela dor, e é pela injustiça, pela traição e pela palavra interpretada errada que se transformou em guerra que meu peito é dilacerado, pelo direito de amar e ir embora, pelo direito natural ao abandono que todos temos, e que a vida faz questão de nos dar com tanta presteza, não é sobre o coração, é sobre meu corpo, areia e caixão. Comumente conhecidos por rotina e casos de amor.

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